Na Época Errada

Em momentos de tristeza, escreve-se, em momentos de alegria, escreve-se, em momentos como este, escrevo aqui..

segunda-feira, outubro 16, 2006

Tá fresquinho

Está friozinho lá fora...
Posso ouvir os vidros das janelas a tremerem de frio pra me proteger. Sinto-me e sento-me por aqui perdido no sofá a tentar tapar as partes que mais depressa sentem o frio, depressa percebo que tapar os pés e as orelhas ao mesmo tempo, com uma manta com metade do meu corpo, é impossivel. Depois de cair na realidade, interiorizo que algo em mim vai tremer de frio durante a tarde, malditos estereotipos de Portugal, têm a mania que somos pequeninos... Apetece-me um chá, quero um misto de maçã e canela, quero sentar-me de novo no sofá, relaxar, beber, relaxar um pouco mais, beber, trincar uma bolachinha de qualquer coisa que haja por aqui perdido no armário, beber, relaxar e relaxar.
Deito-me agora relaxado com partículas de maçã e canela quentinhas a vaguear pelo meu corpo, sinto um calor fofinho a subir desde a ponta das unhas dos pés, a subir, a caminho da espinha, sobe, a caminho da nuca a aconchegar o pescoço, e sobe, a caminho dos sonhos e por fim os cabelos arrepiados... Bateu-me de vez, no sonho de te ter aqui, no sonho de ver-te romper a entrada da sala com o teu sorriso e olhos brilhantes, com o teu narizinho empinado enrugado do sorriso, aproximas-te, sinto o teu cheiro, tocas-me, sinto o teu toque, beijas-me, desmaio. Caiu de novo para trás, gelado de surpresa, tapas-me com o nosso amor e uma manta. Fico quentinho e acordo, molhado.
Está friozinho lá fora...

quarta-feira, outubro 11, 2006

O Mote

Retrato próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage




Haja modéstia dizia eu...


Fisico mediano, moreno, de olhos escuros,
mal tenho pés para a altura que me deram,
sorrio por fora mas por dentro já me arderam
as alegrias que protegi com largos muros.

Visão além horizonte, não me permito a prisões,
inaudito escritor de grandes obras perdidas,
de duplos sentidos são as palavras sentidas,
de pobres sentimentos, de ricas ilusões.

O amor de uma mulher, minha unica necessidade,
sexo com muitas não faz parte do amor,
alem do amor o sexo é grande vontade.

Eis-me aqui, não digno de grande louvor,
com um mote de Bocage, num dia de criatividade
incapaz de fazer melhor.

Rui Costa

domingo, outubro 08, 2006

modestia à parte..

Autor de inumeras obras inacabadas,
O reconhecido do anonimato,
Sou eu, o sonhador de realidades,
O rapaz de palavras certas, o chato.

Sou tudo e nada,
Consigo o melhor e o pior,
Personalidade bruta e fada,
Sou pequeno num corpo não muito maior.

Convencido de modéstia imperturbável,
Certo de incertezas bem convictas,
Vincado de pensamento permutável,
Sou derrotado de guerras invictas.

com oxímoro como base, todo um poema pode passar a prosa.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Morramos das nossas histórias de vida

Do sonho nos tira o mundo o sonho,
De vontade nos tira o mundo a vontade de viver,
De paz nos priva o mundo de descanso
De viver em paz, já que sonhos e vontades não podemos ter.
Julgam-nos maus quem não nos conhece,
Pensadores tentamos ser, com tudo o que nos foi ensinado,
Pela maldade de pensar nos condenam à morte quente,
No fogo de uma fogueira de raiva ateado.
Cultivem fruta povo e não ideias,
Pois quem manda sabe o que deve idealizar,
Mandam cheios de ideias os idiotas deste mundo,
Para de ignorância à fome nos poderem matar.
Mas tentamos respirar as letras,
Procuramos palavras como droga,
Fazemos loucuras que estando ou não certas,
Nos deixam continuar com a poesia ou prosa.
Vivamos então com toda a garra e força,
Vivamos sim, não temos vontade de morrer,
Nem que nos escorrassem como cães, deste mundo,
Nada chegará para cada verso nosso vencer!

Rui Costa, 19/07/06